TEOLOGIA (in)COVENIENTE

“Fostes abençoado graças a Deus. Se não fostes é porque não tivestes fé.”

Certa vez um grupo de religiosos entra no hospital para realizarem “evangelismo”, orarem e decretar cura divina. Decretam cura em nome de Deus, em nome de Jesus a uma paciente acometida de câncer. Passado algum tempo, seu estado é agravado, desenganada pelos médicos, em estado terminal recebe o conforto dos religiosos: “você não foi curada porque não tivestes fé! Só Deus tem poder! Se Deus não curá-la ninguém mais poderá ajuda-la!” Desesperada, salta do 7º. Andar do hospital.
Quantas vítimas continuam subjugadas ao mesmo desespero? Que teologia conveniente! É simples de se compreender, mas impossível aceitar. Todos os créditos e méritos são da Divindade e todos os débitos e fracassos dos descrentes, e para não ser tão cruel, do diabo! (Nisto Helen White tem razão: satanás nos ajuda a levar nossas culpas!).
Ao creditar tudo à Divindade almeja-se subjugar os fracos e necessitados aos seus representantes. Você deve sacrificar-se, cultuar, adorar, e, principalmente, entregar seus dízimos e ofertas, deve participar da campanha, para receber a “bênção”. Não só isto, deve “dar testemunho” para não perdê-la (marketing gratuito e eficiente  não?)! E por fim, continue contribuindo para não irritar a Divindade e perder a “bênção” (renda vitalícia)! Ai! Não deveria me levantar contra os “ungidos do Senhor”, perdoem-me...
Peço perdão de coração! Não quero estragar seu “ganha pão”. Mas pensem um pouco, oh rebanho indefeso, ao atribuir todas as vitórias e conquistas à Divindade, não deveria atribuir-lhes também os fracassos? Mas a questão não é absorver ou condenar à Deus... Ele não precisa que ninguém o defenda! A questão é: qual efeito disso? Aponto dois, mas o pior é o último...
O primeiro efeito dessa teologia (in)conveniente é a subjugação dos fiéis aos representantes da Divindade, aos semideuses, apóstolos e missionários. O segundo e mais desastroso é o nivelamento, massivamente, da dependência, fraqueza e incompetência que são obrigados a crerem. Sim, é isto mesmo, esta é a tragédia: são e sempre serão, por esta teologia, fracassados. Qualquer virtude ou vitória, não vem deles, mas é obra da Divindade! No entanto, qualquer fracasso, a “culpa é toda sua”, mas, para não ficar demasiadamente deprimido, do diabo também.
Muito conveniente! Muito conveniente! Mas o fato que ninguém quer aceitar é: suas derrotas ou vitórias partem de você. Você deve construir suas oportunidades. O sol nasce para todos. Obviamente existem fatores que não dependem de você, foge ao seu controle, mas que adianta atribui-los à Divindade ou aos demônios? Assim não faziam os antepassados quanto aos fenômenos naturais até então desconhecidos? E hoje rimos deles... Rirão de nós na era pós-cristã? Convenientemente os líderes não entenderam Nietzche!
Continuarão usando a principal ferramenta da teologia (in)conveniente: o medo (não deveria ser a verdade, oh líderes?). Juntamente ao medo usa-se o engano, de cada cem pessoas que recebem “a promessa” apenas os poucos que a recebem darão “testemunho”. E se alguém ousar expor a verdade, o acusarão: “você não teve fé”! É redundante. Livre-se das amarras, tenha fé, muita fé, muita fé mesmo...em si próprio! Construa seu caminho! E se preferires, deixe Deus fazer o impossível (saiba que o Deus cristão não cobrará nenhum suborno ou gorjeta), mas cabe a ti o possível! Não seja rebanho, seja espírito livre!

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